Remígio e o saudosismo dos antigos carnavais
- 23/02/2025
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Talvez você me ache um chato de galocha, talvez um amante das reminiscências ou, quem sabe, alguém que ainda relembra com carinho um tempo que, infelizmente, não volta mais. Eu sei, tudo muda, mas às vezes, a nostalgia faz a gente reviver o que foi bom, e o carnaval de antigamente, ah, esse eu nunca vou esquecer.
No passado, até as marchinhas de carnaval tinham letra e um quê de poesia. Mas deixa eu te levar um pouco, como se fosse numa viagem no tempo, para os carnavais da Praça Remígio dos Reis, lá no finalzinho dos anos 80 e começo dos anos 90. Nessa época, a cidade era bem diferente. Poucos tinham automóveis e as motocicletas eram quase uma raridade. Não era como hoje, onde todo mundo viaja para o litoral em busca de diversão nos feriados. O carnaval, no nosso caso, era em casa mesmo, e a diversão estava no Açude do Jacaré, que "sangrava" quase todo ano. Suas margens eram limpas, sem mato, e com árvores que mais pareciam chamar a galera para acampar.
Quando a turma retornava para a cidade, a praça estava fervendo. O prefeito Neto Bronzeado era um grande entusiasta da festa de Momo. Ele mandava encher a piscina da "pracinha", colocava o Irbe's Som, do amigo Benivaldo, para tocar os sucessos do momento que animavam nossa gente e o tradicional mela-mela não poderia faltar nesse contexto. Naqueles carnavais, os blocos mais famosos eram os Picaretas e Os Kit's Samba. Como era bom ver os foliões se divertindo em paz e sem pressa de ir embora.
Logo, a festa ganhou as ruas. Com o prefeito Dr. Passos, o ponto de encontro virou a Avenida Joaquim Cavalcanti de Morais. O centro se enchia de blocos, escolas de samba e até tribos indígenas que levavam uma multidão ao centro de Remígio. E quem não se lembra do prefeito percorrendo de bar em bar, de rua em rua, com a sua caminhonete D-20, seu potente carro de som e sua orquestra tocando frevo e comandando a animação? Era um verdadeiro carnaval!
Eudacler, com o seu jeitinho tranquilo, paciente e inconfundível, também não deixou a peteca cair. Sob sua gestão, a festa continuou forte, até porque o seu vice, Paulinho do Alumínio, foi um dos maiores incentivadores do carnaval de Remígio de todos os tempos. E como esquecer dos bonecos gigantes, o jogo das virgens e das depravadas, o desfile com trio elétrico e blocos como o Cometa Alegria e o Reich Folia? Esse último, pertencente ao grupo musical Reich Music, que foi responsável por grandes momentos sociais na década de 90.
E quando a administração passou para Paulinho, o carnaval foi para outro nível. O Cometa Alegria se consolidou como o grande bloco da cidade, mas não parou por aí. Paulinho ajudava financeiramente o surgimento de outros blocos, como o Paraiboys e Paraygirls, Hetwnight (nem sei se a escrita está certa), Bad Boys e Bad Girls, Intencionados e outros. Além disso, a Escola de Samba União de Lagoa do Mato e a Escola Kit's Samba, botavam gente na rua e criavam uma gostosa rivalidade. Os Kit's Samba inclusive, fez um samba-enredo prestando uma homenagem ao saudoso José Leal, que marcou época e todo mundo cantava. Mas talvez o maior marco foi o surgimento do bloco "Vai Quem Quer", que atravessou gerações e agora, em 2025, comemora seus 25 anos.
As festas? Ah, as festas! Elas começavam logo ao meio-dia e se estendiam até a noite. Remígio vivia o carnaval intensamente, por cinco dias seguidos, e até o bairro de Lagoa do Mato se entregava à folia. A Banda Gens, prata da casa, tocava os sucessos que a galera gostava, mas também havia a participação de grandes atrações e as ruas se encherem de gente para ver os desfiles.
Mas, como toda história, o carnaval também teve um fim. Depois de 2004, com a saída de Paulinho do Alumínio da prefeitura, a tradição foi se perdendo, e a folia foi ficando mais rarefeita. Hoje, o bloco "Vai Quem Quer" é o último vestígio daquele carnaval que fez história em Remígio. E, por mais que o tempo tenha passado, a tradição do bloco se mantém firme, saindo na sexta-feira de carnaval como sempre foi. Como diz seu hino, quase uma profecia: "Se não fosse o Vai Quem Quer, não existiria carnaval..."
E é verdade. Se hoje a cidade ainda respira um pouco daquele carnaval de antigamente, é por conta dessa festa que atravessa gerações e resgata, ano após ano, um pedaço da história de Remígio. Quem viveu aquele tempo, com certeza, carrega no coração a saudade de um carnaval que, quem sabe, nunca mais voltará.
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Ademilson Paulino
23/02/2025
Belíssimo relato sobre os Carnavais da nossa Cidade, digno de elogios, quero lhe parabenizar por fazer essa matéria de alto nível, aonde nos faz lembrar de uma festa que chamava a atenção de todos com muito brilho e alegrias para todos nós Remigenses !!!!